terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Singular



"Onde eu moro não há ruas,
é um lugarejo quase esquecido.
À porta cumprimenta-se o sol,
ou o cinza do céu.
Só vem viajante de quando em vez
que, apenas um, dois dias fica...
É-lhes servido um banquete,
mas que o seu papo não consola.

Daqui vejo, não vislumbro.
É o meu maior impulso.
E percebo o que não devo...
ou devo, sei lá eu...
Porque se acredito,
o que acontecer será único;
se não acredito,
nunca será genuíno,
mas nunca uma espada me trespassará.
Não faço uma escolha
porque poderia trair-me
e apenas quero ser eu.
Não quero pensar no que devo ser.
Pensar afasta a simplicidade
e permite penetrar
nos recônditos da verdade
(que é a que se quer).

Por vezes sinto saudade,
de acreditar que os viajantes ficarão, 
do que tive,
do que não tive ou alguma vez terei,
e colido com o tempo
e caio num vazio onde me sento
desencontrando-me, então.

Viajo sem me mexer:
pelo infinito do que poderão ser
a lógica e o senso
e com as mesmas conclusões mato a meta;  
por felizes possibilidades impossíveis...
que me escorrem por entre os dedos
e visitam à noite enquanto durmo." Flávia Abreu

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